José Antonio e suas Catedrais Espaciais
por Maria CecíliaAraújo de Noronha*
Conheci José Antonio de Lima no final dos anos 80, quando diretora do Museu de Arte Contemporânea do Paraná e, desde então, passei a admirar e acompanhar com grande interesse as transmutações que foram se processando nos trabalhos do artista.
Mineiro de Sacramento, passou sua juventude no Norte do Paraná, onde se formou em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Londrina, mudando-se depois para Curitiba.
As experiências que acumulou em contato com a zona rural foram, sem dúvida, determinantes para a criação e execução das suas obras. A terra, os objetos e ferramentas agrícolas, casulos, totens e os grafismos simbólicos, figuras simplificadas que fazem parte de seu repertório de formas essenciais, estão expressos nas suas pinturas por meio de texturas e traços de grande força expressiva. A construção destas estruturas, organizada pelas matrizes da memória, é que serviram de maquetes para as suas obras tridimensionais.
As esculturas de José Antonio de Lima revelam forte impulso no sentido de dominar a tendência redutora da abstração e, para isso, ele combina as formas geométricas com elementos previamente projetados, obtendo resultados plasticamente surpreendentes.
Amarrados, costurados, oxidados, colados, estes elementos associados às formas simples e materiais comuns – tecido, papel, ferro, arame, barbante – e privilegiando os tons terrosos, ferrosos, os cinzas, o negro e o branco, dão a essência a essas estruturas de onde se depreendem os conceitos propostos pelo artista e a complexidade de seus conteúdos.
O momento especial e mágico, entretanto, acontece quando as suas formas se desligam do plano e se envolvem com o espaço. São as suas Catedrais Espaciais, denominações dadas pelo artista para estas obras tridimensionais do futuro, por todas as narrativas que possam estar nelas contidas.
“No projeto de construção dessas formas quero que o público viaje, através da visão, pelas texturas, asperezas, rugosidades, desenhos, costuras, movimentos das superfícies.”
Ao promover o encontro do espaço e das suas formas poéticas, o artista propõe uma síntese, um diálogo entre duas entidades – o cheio e o vazio – e entre duas dimensões – o passado e o futuro. Impulsionadas pela energia dos contrários, essas estruturas etéreas se movem e se integram com o entorno.
A opção por um tema único e a repetição de elementos compositivos não significa, de nenhuma forma, o abandono aos questionamentos e às experiências com novas formas e materiais, mas demonstra uma grande preocupação com a unidade absoluta, tanto da idéia quanto da execução, o que pode ser já uma proposta para o novo milênio, em oposição ao pluralismo que caracterizou o final do século passado.
De toda forma, por qualquer que seja o ângulo da abordagem, as Catedrais Espaciais de José Antonio de Lima devem ser visitadas.
Publicado em 2004, no livro Narrativas, de José Antonio de Lima.
*Mestra em Educação pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Museologia. Foi professora de História da Arte e Estética da Escola de Música e Belas Artes do Paraná – EMBAP e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR. Foi diretora do Museu de Arte Contemporânea do Paraná – MAC nos anos 1988-1991 e 1995-1998.

Obra de série Catedrais Espaciais,
em exposição sobre lago, na residência artística de Faxinal da Artes,
em Faxinal do Céu/PR, 2002.
Spatial Cathedrals, hanging over the lake, in Faxinal das Artes, 2002.